Naufrágio de Villa Pitanxo

Galiza de luto

10 pescadores perderam a vida e 11 permanecem desaparecidos no naufrágio do Navio pesqueiro galego, Villa de Pitanxo, que ocorreu na Terra Nova, Canadá, durante a madrugada de terça-feira, dia 15 de fevereiro. 3 pescadores sobreviveram a esta tragédia.

“Uma virada inesperada do navio ou um golpe de mar pela popa do navio”, são dois dos fatores que podem ter provocado o afundamento imediato do navio, apontados pelo Jornal “La Voz da Galicia” que acompanha este caso desde a primeira hora. No Jornal sustenta-se ainda que “fontes próximas ao armador insistem que o Villa de Pitanxo estava pescando, recolhendo o saco de pesca, que “pesa toneladas, porque não só transporta peixe, mas também carrega pedras e tudo o que arrasta”, especificam. “Enquanto o saco está debaixo d’água, o navio manobra, mas quando o saco chega à rampa de popa para embarcar no navio, é preciso fazer uma manobra complicada para alinhá-lo e alinhá-lo. E no momento em que o saco foi manobrado para orientar o navio, assim que veio a rebentação do mar, o navio perdeu a orientação, tornou-se instável, subindo da proa e afundando da popa em poucos minutos”, acrescentam.

Em relação aos pescadores, “o que aqueles que conseguiram falar com os sobreviventes dizem é assustador… Eles contam como alguns conseguiram vestir roupas antitérmicas, enquanto outros não. “São roupas difíceis de vestir, não se consegue colocar, e se você não a usa bem e completamente fechada, torna-se uma tumba porque leva você ao fundo”, dizem…

“Foi uma conjunção de fatalidades: um mar agitado com ondas de oito e dez metros a -3º e um vento infernal a -17º, em plena coleta do pesado floco de pesca”, dizem os que têm informações mais diretas do que aconteceu, que falam de “uma situação angustiante que levou o navio a uma situação extrema”.

Sobreviveram o mestre e o seu sobrinho, galegos, e um pescador do Gana. Os restantes pescadores eram 5 peruanos, mais 2 pescadores do Gana, e os restantes espanhóis. Um total de 24 tripulantes.

“O primeiro alerta foi acionado por volta das 5h00, hora espanhola (12h00 em Halifax), quando o sinal da caixa azul – um dispositivo instalado em navios de pesca para fornecer informações ao Centro de Monitoramento das Pescas (CSP) – foi perdido”. E depois, por volta das seis da manhã, confirmou-se que “a [radio] baliza saltou, e que o navio se tinha afundado”.

Vários navios que estavam à pesca na zona acorreram ao local, para apoiar nas buscas e salvamento, mas as condições climatéricas tornaram o processo muito difícil.

Testemunho de um jovem observador de pesca a bordo de um navio português

Um dos barcos que foi em socorro dos náufragos é português, de Aveiro, o Novo Virgem da Barca, e a bordo está João Costa, jovem português, de Peniche, que embarcou nesta odisseia na qualidade de Observador de Pesca, com a função de monitorizar a atividade a bordo com a recolha de dados sobre a pesca.

Muito longe de imaginar o pesadelo e a “visão de inferno” que iria viver, descreve-nos de um modo muito telegráfico (porque as condições de comunicação com o exterior são também muito limitadas) a atuação dos barcos que foram em socorro do navio galego…

Pelas 04h30 UTC no dia 15/02 recebemos a chamada de emergência “distress cal” e direcionamo-nos imediatamente para o local…

Pelas 04h55 UTC recebemos uma chamada das autoridades espanholas a informar que o navio pesqueiro Villa Pitanxo tinha emitido uma chamada de emergência, onde nos pediram assistência e socorro imediato ao navio, ao que procedemos com o mesmo rumo e começamos a navegar a toda a máquina para o local, porem devido às condições de mar (cerca 6m de ondas) , não eramos capazes de atingir a velocidade máxima de 10 nós.

Aproximadamente pelas 09h00 UTC , ainda de noite, avistámos as duas jangadas, em conjunto com o navio pesqueiro Playa Menduina Dos, e ficou determinado cada navio ir a uma das jangadas.

Na jangada de que nos aproximamos não tinha ninguém a bordo, estava vazia.

Porem, a jangada a que o navio pesqueiro Playa Menduina Dos se aproximou tinha 3 sobreviventes com sintomas de hipotermia e vários cadáveres.

Às 16h30 UTC avistámos um corpo a boiar com o fato de sobrevivência envergado, onde tentamos recolhê-lo, mas não fomos capazes devido as condições de mar e o mesmo escapou. Avisámos de imediato o navio Playa Menduina Dos que se encontrava por a nossa popa e esse mesmo navio conseguiu recolhe-lo para bordo.

Às 17h00 UTC avistámos mais um corpo a boiar, este sem fato de sobrevivência e detivemo-lo no costado do barco (bombordo) e esperamos que o navio Maersk Nexus (navio enviado pela Marinha Canadiense para o local) o levasse para bordo.

Às 17h30 UTC avistámos outro corpo a boiar e avisamos de imediato o navio Maersk Nexus, que o conseguiu recolher para bordo.

Na noite esperamos que se fizesse de dia para retomarmos as buscas no dia 16/02 já com mais barcos que haviam chegado ao local para ajudar, e o navio canadiense (Signus) que coordenara as buscas nesse dia em conjunto com todos os navios no local. Porém no dia seguinte as buscas não surtiram qualquer efeito pois não foi resgatado mais nenhum corpo por nenhuma embarcação…

Testemunho de João Silva Costa Martins, Observador no barco Novo virgem da Barca

A Direção da Mútua dos Pescadores já expressou a sua solidariedade ao Governo Galego e autoridades locais, e manifesta uma vez mais a sua solidariedade para com os familiares e amigos das vítimas, e suas comunidades.

Nota: Fotografias e infografias extraídas do Jornal on-line “La Voz de Galicia”, em notícias várias acedidas entre 17 e 23 de fevereiro de 2022 – https://www.lavozdegalicia.es/temas/villa-de-pitanxo/

 

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