Regresso ao mar!

Depois de uma longa ausência, as embarcações e empresas vocacionadas para o turismo marítimo e fluvial regressam aos seus postos de vigia nos cais na expetativa de receberem a bordo os tão esperados visitantes. É tempo de redescobrir a costa, os nossos rios e barragens!

Março seria o mês do recomeço, quando o tempo aquece e o mar se oferece a qualquer pessoa, para ser revelado por quem conhece a fauna e a flora costeira, e todos os recantos que escapam aos olhares menos familiarizados com este universo, sempre deslumbrante. Seja para um simples passeio sobre as águas, seja para fazer mergulho ou qualquer outra atividade náutica.

Este ano foi diferente. Está a ser diferente. As empresas de marítimo-turística tiveram que voltar costas à sua vida de todos os dias, porque todos se fecharam também. E foram estas as empresas do setor náutico que mais sofreram os efeitos da crise, já que pararam por completo a atividade.

Desde junho puderam retomar a atividade, à semelhança de outras atividades, seguindo as orientações das autoridades de saúde e Governo para um progressivo desconfinamento mas o ritmo deste recomeço será lento, quão lento será o regresso dos turistas internacionais, que é a grande fatia dos turistas deste setor de atividade.

Por ora estas empresas, e à semelhança de outras relacionadas com turismo e lazer, contam sobretudo com os nacionais, os poucos ainda, que têm oportunidade de usufruir destas atividades.

E todos têm agora responsabilidades redobradas nos cuidados de higiene, saúde e segurança, mais do que nunca partilhadas entre tripulações e passageiros. Isto apesar de a informação disponível pelas autoridades de saúde adiantar que os ambientes aquáticos não favorecem nada a propagação do virus, devido ao efeito de diluição na água e também a exposição aos raios ultra-violeta. E além do mais as atividades ao ar livre, ainda que inicialmente apenas de um modo mais solitário, foram até as únicas aconselhadas em tempos de pandemia para procurar manter um estilo de vida saudável.

A APECATE, Associação Portuguesa das Empresas de Congressos, Animação Turística e Eventos, elaborou em parceria com instituições universitárias, nomeadamente a Universidade Lusófona, o CIPES – Centro de Investigação de Políticas do Ensino Superior, Instituto Politécnico da Lusofonia e Universidade de Aveiro, diversos Manuais de boas práticas em contexto de pandemia, para as várias atividades relacionadas com o seu trabalho, onde se inclui também o Manual dirigido aos operadores das atividades marítimo-turísticas. Um manual que é sinalizado também pelo organismo Turismo de Portugal, que tutela as atividades de turismo e de lazer em Portugal.

No manual exalta-se a máxima “manter simples”, para o sucesso de qualquer medida que visa instituir um sistema de gestão do risco, de prevenção do contágio entre passageiros e tripulantes, e todos os envolvidos, nas várias fases destas atividades – desde a preparação/limpeza/desinfeção dos equipamentos, e boas vindas aos passageiros/utentes, até à chegada e/ou entrega os equipamentos. E também as medidas a tomar em caso de contágio.

Não obstante o risco ser aqui mais reduzido, porque ao ar livre, as regras são as universais de conduta social:

  • “A utilização de máscara recomendado, salvo quando a mesma é contraproducente;
  • Manter o distanciamento pessoal;
  • Lavagem e desinfeção frequente das mãos”.

O Manual detalha em concreto recomendações para as diversas atividades – desde os passeios, ao aluguer de equipamento, atividade de mergulho, entre outras, bem como as medidas internas para os trabalhadores das empresas em todos os momentos da atividade.

O selo Clean & Safe é outra das medidas tomadas pelo Turismo de Portugal, em vigor para todos os setores de atividade turística, que visa a adesão por parte dos operadores ao cumprimento de um conjunto de medidas que visam prevenir o contágio, e que poderá contribuir para uma maior confiança dos utilizadores destes serviços.

É importante porém que neste regresso, como em todos os domínios da atividade económica, cultural, não se esqueçam os números cruéis do confinamento para as atividades relacionadas com congressos, animação turística e eventos, que de acordo com a APECATE, representam “mais de 300 milhões de cancelamentos” e “empresas 100% fechadas até Setembro”. Em comunicado conjunto, que juntou a APECATE, à Aporfest (Associação Portuguesa de Festivais de Música), a APEFE (Associação de Promotores de Espetáculos, Festivais e Eventos), “Todos juntos na solução da crise”, a APEFE destacava também os “mais de 100 mil postos de trabalho afetados e mais de 25 mil espectáculos e festivais com entradas pagas cancelados ou adiados, apenas no período de 8 de março a 31 de maio, e a APORFEST com festivais/iniciativas canceladas ou adiadas desde 4 de Março”.

O setor da náutica de recreio foi também severamente castigado, com o cancelamento de inúmeras provas e regatas que mobilizaram as comunidades ribeirinhas de Norte a Sul do país, por esta altura do ano.

Com a redução destas atividades, toda a indústria à volta, da construção naval por exemplo, já estruturalmente frágil, também sofreu mais um duro golpe, mas não só, falamos de todos os trabalhos conexos ligados à construção de embarcações. Como diria um fabricante em entrevista à Nautica Press, de 24 de abril, “Temos que nos lembrar, que não são só as pessoas que trabalham na produção no estaleiro, são as empresas à volta: o homem que faz os inox, é o estofador e todos os pequenos negócios que se desenvolvem à volta do fabricante.”

É do regresso ao mar e às atividades de lazer que se fala agora também, neste Verão que inicia devagar, e ao mar em português, encontrando, também, e porque não, soluções mais adequadas e à medida das possibilidades das população locais.


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