(IN)SEGURANÇA MARÍTIMA

Nesta época do ano, somos assombrados com as notícias dos trágicos acidentes nas estradas portuguesas. A operação Natal e Ano Novo da GNR, ano após ano faz o balanço, e este ano não é exceção: 580 feridos ligeiros, 38 feridos graves e 11 mortos (9 no continente e dois nos Açores e Madeira), até à data. Mais acidentes e menos vítimas mortais do que em 2018 (quando se registaram 21). Mas a operação que começou a 20 de dezembro, só terminará a 5 de janeiro de 2020. Nas estradas marítimas portuguesas os acidentes são menos comuns, mas nem por isso menos graves, e quando morre um homem do mar, é toda uma atividade profissional e as suas comunidades que padecem. 2019 termina com sabor amargo com a ocorrência de três acidentes graves, que culminaram com a morte de dois pescadores, na praia da Aguda e na Ilha da Culatra, registando-se também o desaparecimento de um pescador lúdico, ex-profissional da pesca, em Viana do Castelo, a bordo de uma embarcação de recreio.

No dia 4 de dezembro, a embarcação de pesca local Irmãos do Mar, naufragou a cerca de 250 metros da praia da Aguda, na zona da rebentação, quando estava na faina, tendo os seus dois tripulantes sido surpreendidos por uma onda que virou a embarcação. Um dos tripulantes, com 58 anos de idade, foi retirado do mar já sem vida, e o outro pescador foi resgatado com vida, ajudado por uma outra embarcação de pesca que estava no local. Foi assistido no local e transportado para o Hospital Santos Silva, em Vila Nova de Gaia, com ferimentos ligeiros. No local, estiveram elementos dos Bombeiros Voluntários da Aguda, da Polícia Marítima e do INEM. O alerta foi recebido pelas autoridades pelas 8h30 e os pescadores terão saído para o mar por volta das 8h00.

Na véspera de Natal, dia 24 de dezembro pelas 8h05, a embarcação de arrasto da ganchorra Alamar, com cerca de sete metros de comprimento e dois pescadores a bordo, que se encontrava em faina de pesca voltou-se na zona da rebentação em frente à ilha da Culatra, em Olhão, tendo um dos pescadores perdido a vida no acidente. O alerta foi recebido na Capitania do Porto e Comando-local da Polícia Marítima de Olhão, através da GNR, tendo sido de imediato enviados para o local os meios de socorro. Um dos pescadores conseguiu nadar até terra e foi ajudado por populares, mas o outro pescador ficou desaparecido, tendo sido detetado na zona da rebentação, e recolhido pela embarcação do Instituto de Socorros a Náufragos. Após o naufrágio, o Alamar ficou encalhado no areal. No local encontravam-se a efetuar buscas uma embarcação do Instituto de Socorros a Náufragos, uma embarcação da Polícia Marítima, a Lancha de Fiscalização Rápida “Dragão”, da Marinha, e uma embarcação da Unidade de Controlo Costeiro da GNR. Os pescadores capturavam conquilha e ameijoa, bivalves bastante procurados na época natalícia.

O pescador que nadou até à praia foi transportado pela Lancha Salva-Vidas para o cais de Olhão. Como apresentava sinais de hipotermia foi encaminhado para o Centro Hospitalar Universitário do Algarve.

De Viana do Castelo, chegou a notícia do desaparecimento de um pescador da pesca lúdica e ex-profissional, no sábado, dia 28, tendo a sua embarcação de recreio sido encontrada vazia a cerca de seis quilómetros a oeste de Viana do Castelo. Estiveram envolvidos nas buscas um semi-rígido da polícia marítima, embarcação salva-vidas do Instituto de Socorro a Náufragos de Viana do Castelo, uma corveta da Marinha e um helicóptero da Força Aérea portuguesa. O alerta foi dado pela sua mulher, pelas 16h10, após ter tentado contactar o marido para o telemóvel, mas sem sucesso.

Não nos resta apenas lamentar estas perdas de vidas humanas, e as sequelas para os que ficam, os sobreviventes e os familiares, amigos, das vítimas. Cumpre-nos sobretudo alertar que é também (e acima de tudo!) em terra que devemos acautelar os infortúnios que o mar traz:

Atenção ao estado do mar, verificar os equipamentos de segurança das embarcações, de navegação, os que apoiam no exercício de algumas manobras e recolha das artes; garantir o uso dos coletes de proteção individuais, que são os únicos que nalguns casos garantem a sobrevivência (ou em casos limite o aparecimento do corpo, algo que não é de somenos se pensarmos nas consequências ainda mais trágicas para as famílias e comunidades dos desaparecimentos no mar); cumprir as regras de segurança.
Garantir também o seguro adequado, de acidentes de trabalho e acidentes pessoais em simultâneo no caso da pesca, que proteja as tripulações e suas famílias em caso de acidente; e também o seguro das embarcações, que não sendo obrigatório é absolutamente recomendável, já que é a unidade de produção que fica garantida em caso de acidente, o posto de trabalho, o ganha-pão das famílias dos armadores e pescadores.

Foto Marisa Rodrigues JN
Foto Marisa Rodrigues JN