O passado sábado, 23 de setembro, foi dia de emoções fortes!
A primeira edição da Festa dos Bacalhoeiros juntou algumas várias dezenas de homens que andaram na Faina Maior. Desde Caminha a Sesimbra, várias comunidades piscatórias estiveram representadas no Museu Marítimo de Ílhavo com o propósito de celebrar e homenagear os pescadores do Bacalhau.
O programa, da responsabilidade do Museu Marítimo de Ílhavo, contemplou uma visita guiada ao Museu, uma apresentação do portal dos Homens e Navios do Bacalhau, um almoço convívio em que o prato principal foi a “Chora”, um prato (sopa), muitas vezes o único, que era servido a bordo dos navios do bacalhau, confecionado com recurso às caras de bacalhau e arroz. Por fim, uma visita ao navio “Santo André”.
Foi arrepiante ver antigos camaradas reencontrarem-se depois de mais de 40 anos. Primeiro, a incredulidade pelo reencontro. Em seguida, a abertura dos olhos o máximo possível, como a querer escavar no cérebro as lembranças ainda “baças”. Depois, o sorriso aberto. Por fim, o forte abraço. Estava aberta a conversa e a estrada das memórias intermináveis…
A Mútua dos Pescadores respondeu afirmativamente à colaboração na mobilização da comunidade piscatória da Nazaré. O transporte foi cedido pela Confraria Nossa Senhora da Nazaré, a quem muito agradecemos a sua pronta adesão a esta iniciativa.
Ver ao largo, homens a recordar a vida quotidiana a bordo com uma emoção típica das crianças, falando das manobras do arrasto clássico, do frio, do café e do bagaço… é um privilégio. Das horas de castigo à proa, com 20 graus negativos e do vaivém improvisado, que levava café aos “condenados” para que estes não padecessem de frio. Das idas à terra e do “calor” das discotecas de St. John`s. Dos óculos do Cozinheiro… pois bem, não resisto a contar esta história.
Joaquim Piló, dirigente sindical das pescas e contramestre no bacalhau, falava do súbito desaparecimento dos óculos do cozinheiro. Tudo isto motivado pela enorme cafeteira que se encontrava no fogão da cozinha do “Santo André”. Passaram-se meses e meses e nada de aparecerem os óculos do cozinheiro. Durantes estes meses, a cafeteira tinha feito litros e litros de café para consumo dos pescadores. Na viagem de regresso, já nos últimos dias, quase a chegar a Lisboa, lavavam-se as panelas, pratos, e outros utensílios de cozinha, entre os quais, a dita cafeteira. Para espanto de todos, incluindo o próprio cozinheiro, ao virar a cafeteira para a conseguir lavar, depois de muitos meses de “borra de café acumulada”, caem de lá os bem ditos óculos! Se a cafeteira fosse lavada, diariamente, nunca os óculos do cozinheiro tinham desaparecido durante tanto tempo!
Esta foi apenas uma das pérolas ali contadas, pela boca e pela emoção daqueles bacalhoeiros.
Para a Mútua dos Pescadores foi um prazer e uma honra participar e promover esta iniciativa!