26% da população global não tem acesso à água potável e 46% vive sem acesso a saneamento básico
Os Dias Mundiais designados pela ONU alertam para situações e realidades que precisam de mudar. Assim acontece com o Dia Mundial da água assinalado a 22 de março, em que se revelam os números do atraso civilizacional em que nos que nos encontramos, onde mais de um quarto das pessoas não têm acesso a água potável, com as consequências ao nível do saneamento básico e saúde pública que daí decorrem.
O Estudo lançado pela Unesco para assinalar esta data, e marcar a abertura da Conferência da ONU sobre o tema, que decorre em Nova Iorque, entre 22 e 24 de março, revela que num planeta com 8 bilhões de habitantes, 26% da população global não tem acesso à água potável, ou 2 bilhões de pessoas (uma em cada quatro pessoas!) e que a situação tende a pior, devendo atingir até 2,4 bilhões de pessoas, até 2050.
Revela também que cerca de 46% dos habitantes do planeta não possuem serviços de saneamento básico, o equivalente a 3,6 bilhões.
Estará em discussão o aumento de enchentes, secas, rios secos e outras mudanças extremas nos recursos hídricos ligadas à mudança climática, bem como formas de os países poderem expandir o acesso à água potável, principalmente nas comunidades mais pobres, e melhorar os serviços de saneamento, que permanecem inacessíveis para muitos.
A Conferência da Água da ONU acontece no meio da Década de Ação da Água da ONU, um esforço global para evitar uma crise de água iminente que pode causar um déficit de 40% no abastecimento global do recurso até 2030.
Na Conferência deverá construir-se uma Agenda de Ação pela Água, uma série de compromissos destinados a ajudar a alcançar o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 6, sobre o acesso à água potável e ao saneamento. Uma Agenda, porém, construída voluntariamente pelos países membros da ONU.
Audrey Azoulay, diretora-geral da Unesco, afirma que “a água é o nosso futuro comum”, sendo essencial agir em conjunto para sua partilha de forma equitativa e gestão de forma sustentável. Há uma necessidade urgente de estabelecer mecanismos internacionais fortes para evitar que a crise hídrica global saia do controlo.
Boas práticas – gotas no oceano…
Perante este drama mundial, algumas histórias entre “parcerias e participação popular” são apresentadas como exemplos de boas práticas a seguir, para inverter a tendência de declínio desta realidade no horizonte até 2030. Serviços ambientais, de controlo da poluição e biodiversidade, estão entre as recomendações destacadas no relatório, ao lado de oportunidades de partilha de dados e cofinanciamento. A criação de “fundos de água”, formas de financiamento partilhadas entre municípios, empresas e serviços públicos, para investir coletivamente na proteção do habitat e a gestão de terras agrícolas para melhorar a qualidade e quantidade da água, estão entre outras das medidas, já testadas nalguns contextos, com bons resultados.
Exemplo de um fundo lançado em 2013 na cidade de Monterrey, no México, que foi responsável por manter a qualidade da água, reduzir inundações e melhorar problemas de infiltração, além de reabilitar habitats naturais, por meio de cofinanciamento; e noutro contexto geográfico bem diferente, em Nairóbi, no Quênia, também uma iniciativa semelhante na bacia hidrográfica do rio Tana-Nairóbi, que fornece 95% da água doce da capital e 50% da eletricidade de todo o país, revelou impactos positivos.
Também os nossos gestos do dia-a-dia para não desperdiçar este recurso precioso, poderão ser uma gota neste Oceano… uma gota que nos deve mobilizar a todos, pelo “futuro comum”.
Outras ligações:
Plataforma mundial “Fórum dos Povos pela Água”: https://thepeopleswaterforum.org/pt/quem-somos-nos/
Portal da Água (Ministério do Ambiente, Águas de Portugal, Agência Portuguesa do Ambiente e ERSAR): https://portaldaagua.pt/